Perspectivas Comunitárias Interculturais de Letramentos Originários

Abstract

O objetivo com este trabalho é contribuir com a reflexão sobre letramentos, com base nas cosmopercepções de dois povos originários brasileiros, A’uwẽ Uptabi (Mato Grosso) e Tapuia (Goiás), Tronco Macro-Jê, família Jê (RODRIGUES-TAPUIA, 2018; ABTSI’RE, 2022), a partir da problematização de educação linguística bilíngue intercultural. Na cosmopercepção de muitos dos povos originários brasileiros, as memórias ancestrais são a base dos atos e modos de significação de mundos, que se constituem como ensinamentos e como projetos educacionais. As narrativas são muitas e diversas, logo, a educação linguística, fundada nas narrativas de memória, desafia a ideologia monolíngue, é uma situação de línguas em sociointeração, tensionando as funções de língua de ensino e de língua ensinada. A apropriação da língua da administração pública, o português, no Brasil, e as línguas de divulgação de conhecimentos científico-acadêmicos, como o inglês e o espanhol, é importante, tanto quanto a preservação das línguas originárias, para a sustentabilidade de seus mundos, pois contribui para a sobrevivência de seus conhecimentos, espiritualidades e com o cuidado com o planeta. Educação linguística e educação ambiental, então, não se dissociam, e as práticas de letramentos são, pela escuta, o narrar o corpo-território de saber espiritualizado em seus atos e modos de significação de mundos. Assim, as memórias e as línguas são conhecimentos que não morrem, adormecem e despertam (RODRIGUES-TAPUIA, 2018; RUBIM-KOKAMA, 2020; KAMBEBA, 2020), portanto, qualquer projeto educacional somente pode ser transformador se for vivido como um movimento coletivo com ações comunitárias de salvaguarda das línguas, saberes, espiritualidades e territórios.

Presenters

Tânia Ferreira Rezende
Professora, Faculdade de Letras Laboratório de Políticas de Promoção da Diversidade Linguística e Cultural, Universidade Federal de Goiás, Goiás, Brazil