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Separação entre língua e corpo na discussão sobre africanismos no português brasileiro.

A separação entre língua e corpo na linguística teórica teve diversas implicações sobre como o português brasileiro é visto hoje, como sendo um desenvolvimento do português europeu. 

Foi essa separação que linguistas sustentaram para argumentar em favor da hipótese de que o português brasileiro não sofreu influência alguma de línguas africanas. Tal ideia é absurda quando levamos em conta os três séculos de escravidão e intenso contato linguístico em território brasileiro. 

O que é irônico é o fato de os pesquisadores nos campos da Letras terem dedicado tanto esforço para descrever a formação do português a partir do contato entre o latim e as línguas locais. Isso quer dizer que é somente o contato entre línguas "nobres" que gera mudança linguística? Há alguma condição específica que promoveria a mudança no caso do latim e não do português?

Essa separação entre corpo e língua, defendida como um pressuposto "científico", é usada para tentar legitimar a ideia de que a discussão é puramente linguística. No entanto, ao tentar apagar a influência africana no português, apaga-se os corpos africanos, reijeitados, massacrados, vítimas de um pensamento colonizado que tenta, cada vez mais, aproximar-se da colônia. 

Felizmente, tem tido avanços no campo da linguística africana e, hoje, muitos estudiosos reconhecem e pesquisam a influência africana no português, inclusive por meio de estudos comparativos com as variedades africanas do português. Há uma citação que eu gosto muito, que captura um pouco do absurdo que foi feito nas Letras em relação aos africanismos no português:

"[...] quando incorporamos à reflexão os fatos geográficos e históricos [...] parece-nos difícil sustentar a ideia de uma deriva natural do português clássico para o português brasileiro, em um percurso relativamente homogêneo através dos séculos e em todo o território colonial. (NEGRÃO; VIOTTI, 2012, p. 321)".

  • Souzana Mizan
  • Yan Borgens
  • Edna Sousa Barbosa
  • Yan Borgens
  • Souzana Mizan