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Multiletramentos na formação de professores de línguas

experiências no/do GEFOPLE em ambientes virtuais

Paper

Abstract

Neste trabalho, discutimos as ações desenvolvidas ou expandidas pelo Grupo de Pesquisa de Formação de Professores de Línguas (Gefople), especialmente no primeiro semestre de 2020, devido à pandemia de Covid-19, que envolveu: (i) discussão de textos teóricos mediados por recursos tecnológicos (Meet); (ii) interação em diferentes plataformas digitais (Classroom, Instagram e Whatsapp); (iii) cooperação entre instituições (Gefople website) com base nas interações virtuais ocorridas durante as referidas reuniões. Considerando as novas formas de significados e as novas formas de comunicação surgidas pelas multimodalidades nos contextos digitais, discutimos o quanto é importante proporcionar essas reflexões na formação de professores de idiomas. Este trabalho foi orientado pelas pedagogias das multiliteracias e pelos estudos sobre a formação de professores de línguas (KALANTZIS; COPE; PETRILSON, 2021; FREITAS, 2019; MAGALHÃES; FREITAS; AVELAR, 2019; BORELLI; PESSOA, 2018; MENESESES DE SOUZA, 2011).

Keywords

Multiletramentos. Educação Linguística. Grupo de Pesquisa. Gefople

Introdução

Tecnologia

Tecnologia que pulsa

A cada conexão

Tecnologia que humaniza

A cada reflexão

Une, agrega, com capacidade de interação

Move-se ao toque, com ampliação e disseminação

Aparatos, ferramentas, dispositivos

Apenas instrumento, não garante nova (com)posição

Olira Rodrigues

 

O jogo de palavras no texto poético de Olira Rodrigues traduz de forma lúdica e ao mesmo tempo tão profunda a relação que estabelecemos com a tecnologia principalmente se considerarmos a rotina dos professores neste ano. Foi um ano diferente! Um ano de muitas surpresas, angústias, desafios e superações. A COVID-19, doença causada pelo coronavirus, denominado SARS-CoV-2, assustou o nosso país, e tem afetado o mundo todo não só em relação à saúde, mas em relação às questões sociais, políticas, econômicas, educacionais. Sim! Fomos acometidos por uma pandemia.

Nosso país, o Brasil, tem sofrido as consequências dessa pandemia e, embora nossos governantes não tenham decretado o lockdown como nos países da Europa, estamos “trancados” e fomos “forçados” a reinventar a vida, cumprindo um decreto que dita o distanciamento social.

Devido a essa pandemia, todos os setores da vida humana foram sujeitados às mudanças e às adaptações relacionadas ao modo de vida das pessoas. O mundo digital, ou a tecnologia, como apresentada na epígrafe passou a fazer parte do cotidiano escolar e da vida de professores e alunos como condição para interação com a escola e com outras pessoas.

Assim foi para o nosso grupo de estudos que logo no início das atividades desse ano, recebeu a notícia do distanciamento. Diante disso, vieram as dificuldades e as incertezas, mas em oposição, a incessante vontade de estudar e agora mais do que nunca, “estudar esse novo modelo de estudar”.

De início, foi preciso reestruturar o cronograma do curso de acordo com a disponibilidade do grupo, pois as pessoas estavam agora reestruturando suas várias funções sociais. Foi importante também, repensar as formas de compartilhar o conhecimento, definir as metodologias e os suportes tecnológicos para que tudo acontecesse da melhor maneira possível.

Com a pandemia, veio a necessidade de se reinventar e muita gente percebeu a importância de  considerar a tecnologia digital como parte de suas vidas. Enquanto professoras pesquisadoras, nos engajamos em entender, compreender e, além disso, compartilhar experiências multimodais em um contexto digital, compartilhar como tem sido fazer ciência de dentro da nossas casas.

Considerando os novos modos de construir sentidos e as novas maneiras de se comunicar propiciadas pelas multimodalidades emergentes no meio digital, percebemos a necessidade de se agregarem à formação de professores discussões que envolvam novas manifestações da linguagem. O meio digital já fazia parte do nosso cotidiano, tanto para entretenimento quanto para estudos, trabalho e outras atividades, porém, isso se intensificou com a pandemia. Parte dos nossos alunos passam horas do dia conectados à internet e utilizando as diferentes linguagens que emergem de suas interações com a cibercultura.

A urgência do momento atual reflete a necessidade de competências linguísticas específicas para a era digital, uma vez que, durante a pandemia, intensificou-se o uso das tecnologias. No período de distanciamento social, a comunicação acontece, muitas vezes, mediada pela internet, a educação é realizada a distância, por meios remotos, tendo como suporte as plataformas digitais, redes sociais, dentre outros softwares que não fizeram parte da formação da maioria dos professores ou das instituições de ensino e que nem mesmo estão ao alcance de todos.

Contudo, há desafios em relação às novas tecnologias na formação de professores, uma vez que muitas experiências durante a formação estão frequentemente limitadas ao uso enquanto ferramenta desassociada das práticas linguísticas e socioculturais.

Este artigo surge da proposta de compartilhar as ações desenvolvidas ou ampliadas pelo Gefople (Grupo de Pesquisa de Formação de Professores/as de Línguas), especialmente no primeiro semestre de 2020, em decorrência da pandemia de Covid-19, no intuito de refletir sobre algumas possibilidades que o contexto digital nos oferece. Desta forma, apresentamos e discutimos as ações que envolveram: (i) discussão de textos teóricos mediados por recursos tecnológicos (Meet); (ii) interação em diferentes plataformas digitais (Classroom, Instagram e Whatsapp); (iii) cooperação entre instituições (Observatório de Ideias, site do Gefople) a partir das interações virtuais ocorridas durante os referidos encontros. 

As perspectivas teóricas exploradas são pautadas nos multiletramentos, dialogando com a multiplicidade de canais e mídias de comunicação, a multiplicidade linguística e cultural, e na formação de professores de línguas (MONTEMOR, 2010, 2017, 2019; FERRAZ, 2018, 2019; MENEZES DE SOUZA, 2011, 2019; ROJO, 2012, 2019, 2020; PESSOA, 2018).

Quanto aos aspectos metodológicos, buscamos, por meio da abordagem qualitativa interpretativa analisar, por meio das nossas percepções, a experiência do/no Gefople em ambientes virtuais. Para isso, consideramos os encontros do grupo em 2020 e utilizamos como instrumentos para análise de informações os relatos e postagens dos integrantes do grupo nas plataformas virtuais (Whatsapp, Google Classroom, Instagram e nos chats dos encontros virtuais via Google Meet).

Este artigo está organizado em três momentos. No primeiro, o Gefople como espaço para práticas de multiletramentos na formação de professores de línguas; no segundo, o contexto da pesquisa que envolve as atividades do grupo realizadas em 2020; no terceiro, o Gefople é descrito por meio das práticas de multiletramentos que possibilitaram novas reflexões sobre a atuação do professor de línguas.

Nossas discussões a respeito da formação de professores carregam princípios sociais, consciência para transformação e associam valores para evidenciar a necessidade de mudanças e comprometimentos com a busca da informação, compartilhamento de saberes e/ou estudos que ampliem as possibilidades de crescimento e inovação do ensino na formação de professores. Acreditamos na importância de ampliar as possibilidades e a necessidade de concretizar as práticas de vida em sociedade mediadas pelas tecnologias a fim de desenvolver e conhecer os mecanismos que levam a autonomia na competência para trilhar a diversidade de sentidos.

GEFOPLE: espaço para práticas de multiletramentos na formação de professores

 

As novas mídias e canais de comunicação têm colaborado para o surgimento de novas formas de se relacionar e interagir com os textos. Assim, além das formas tradicionais (escrita e oralidade) os textos se constituem de várias outras linguagens, como por exemplo as imagens estáticas ou em movimento, os sons. Desta forma, os interagentes do texto precisam aprender novas habilidades de leitura e escrita para se relacionar com esses novos modos de ler. O termo multiletramentos surge no intuito de abarcar todas essas multiplicidades que emergem dessas novas formas de se comunicar e expressar e que extrapolam as formas convencionais, reconhecendo a diversidade de canais de comunicação, de linguagem e de cultura (KALANTZIS; COPE; PETRILSON, 2020).

Interagir por meio destas diferentes linguagens é extremamente importante na contemporaneidade. Neste sentido, o Gefople se constitui com o desejo de ressignificar a formação de professores de línguas e preencher algumas lacunas ainda existentes nesse processo. Assim, buscamos, por meio de ações desenvolvidas pelo Gefople, abordar questões relacionadas à educação linguística, reflexões sobre multiletramentos, novos letramentos, tecnologias, questões de gênero, dentre outras.

O Gefople é um grupo de estudos e pesquisas em formação de professores de línguas vinculado à Universidade Estadual de Goiás, em Inhumas e ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Língua, Literatura e Interculturalidade (POSLLI), Câmpus Cora Coralina, na Cidade de Goiás. Integram o grupo pesquisadores e estudantes da área de Letras de diferentes níveis de formação – graduandos a doutores – e residentes em diferentes cidades do estado de Goiás e de outros estados que discutem, investigam e compartilham reflexões envolvendo a linguística aplicada crítica e visando uma educação linguística coerente com as emergências e demandas socioculturais.

O Gefople articula quatro linhas de pesquisa no intuito de pensar sobre a educação linguística nos diferentes níveis de ensino, a saber: 1) Letramentos/ Multiletramentos nas ações de formação de professores de línguas; 2) Interculturalidade e decolonialidade em ações de formação de professores de línguas; 3) Formação de professores de línguas estrangeiras para educação básica e superior; 4) Formação de professores de língua inglesa para crianças. Neste sentido, o Gefople cria espaços que consideram reflexões críticas acerca da língua(gem) com a proposta de complementar e expandir perspectivas para a formação de professores de línguas.

Os integrantes do Gefople, desde 2014, têm desenvolvido ações de formação por meio cursos de curta duração, grupos de estudo, atividades de extensão e pesquisa. Em 2020, duas ações de extensão foram incorporadas à história do Gefople, a saber: i) Novas tecnologias, linguagens e formação de professores de língua inglesa, sob coordenação da Michely Gomes Avelar; e ii) Formação para professores da rede municipal de educação, sob coordenação da Giuliana Castro Brossi. Ambas ofertadas na modalidade online.

O Gefople se reuniu semanalmente por meio da plataforma Google Meet, com encontros de duração média de duas horas. Nos encontros são discutidos temas previamente selecionados sobre temáticas relacionadas às pesquisas dos grupos. Os temas são escolhidos a partir de propostas e sugestões dos integrantes e, além dos textos convencionais as leituras também incluem outras modalidades, como vídeos, podcasts, lives, imagens, games, dentre outras linguagens. Além do encontro semanal descrito, há interação entre os participantes por meio de aplicativo de mensagem, redes sociais e sala de aula virtual.




 

 

As atividades do Gefople como contexto de pesquisa sobre os multiletramentos na formação de professores de línguas

Para falar sobre nossas praxiologias e as experiências do/no Gefople em ambientes virtuais, nos amparamos metodologicamente na abordagem qualitatitiva interpretativista, considerando a participação, as reflexões e as interpretações das pesquisadoras quanto às discussões teóricas realizadas pelo grupo, quanto às interações dos agentes pesquisados por meio plataformas digitais e os registros no site do Gefople. Deste modo, consideramos como instrumentos para esta pesquisa as nossas notas, as interações no grupo do Whatsapp, as postagens na sala de aula virtual no Google Classroom, os encontros virtuais e os registros nas redes do Gefople (Instagram/Facebook e site do Observatório de Ideias).

As notas das pesquisadoras foram geradas a partir da observação e de reflexões sobre os encontros e as atividades realizadas. As interações realizadas no Whatsapp e as postagens na sala virtual foram realizadas no decorrer do ano espontaneamente ou em respostas às mensagens solicitando que compartilhassem suas impressões sobre as discussões e as temáticas. As postagens feitas nas redes sociais foram produzidas em respostas às discussões do grupo.

Os participantes da pesquisa são professores de línguas (português e inglês) em formação inicial e continuada membros do Gefople. Antes da pandemia, os encontros aconteciam de forma presencial na cidade de Inhumas. Entretanto, alguns dos integrantes do grupo, residentes em outras cidades, participavam de modo virtual quando estavam impossibilitados de realizar o deslocamento para a cidade. Embora já houvesse a possibilidade de participação mediada por ambientes virtuais, foi somente com a pandemia que nossas praxiologias foram, de fato, repensadas para atender as demandas dos encontros online.

Para a realização das atividades do Gefople, consideramos: (i) a criação de uma sala de aula virtual no Google Classroom para interação e comunicação entre os participantes com postagem dos materiais (textos escritos, vídeos, podcasts, lives, por exemplo), orientações para as atividades, informações sobre as pesquisas e discussões assíncronas; (ii) intensificação da comunicação por meio do Whatsapp; (iii) atualização do Observatório de Ideias, que é o site do Gefople; e (iv) a criação do perfil e da página do Gefople nas redes sociais Instagram e Facebook para divulgação das pesquisas e dos integrantes do grupo.

Escaneei para acessar o site do Gefople - Observatório de ideias

Assim, em 2020 iniciamos nossos encontros em abril na modalidade virtual, após analisarmos as possibilidades para continuarmos nossos estudos e aprimorarmos nossos conhecimentos e práticas mesmo em tempos de incertezas.

Todas as ações desenvolvidas consideram as perspectivas dos multiletramentos, articulando diversidades culturais e linguísticas provenientes do ambiente digital com diferentes leituras e discussões sobre língua, cultura/interculturalidade, cultura digital e ensino de línguas. .

 

Praxiologias do/no GEFOPLE

Leituras e interações

Iniciamos com a proposta de discutir os conceitos e compreensões sobre educação linguística a partir da leitura do livro “Perspectivas críticas de educação linguística no Brasil: trajetórias e práticas de professoras/es universitárias/os de inglês”. Para isto, os integrantes do grupo escolheram um capítulo para mediar a discussão nos encontros consecutivos. A escolha por este livro foi motivada por trazer reflexões também sobre as trajetórias pessoais e profissionais e sobre as práticas que envolvem as  perspectivas críticas de educação linguística de pesquisadores de diferentes contextos e de diferentes regiões do Brasil. Foram convidadas para participar dos encontros e contribuir com nossas reflexões as pesquisadoras e autoras de capítulos no livro estudado, as professoras Clarissa Jordão, Mariana Mastrella-de-Andrade, Rosane Rocha Pessoa e Viviane Silvestre.

Figura 1

Redes sociais

Reconhecendo também a importância de falar sobre a pluralidade sociocultural do grupo, destacando quem somos nós, realizamos postagens no Instagram sobre os integrantes do grupo, apresentando as pessoas que estão por trás do sujeito pesquisador, quais identidades nos perpassam, quais são as experiências pessoais que nos constituem e possibilitam conexões com os saberes e experiências profissionais e acadêmicas. Assim, postamos no Instagram do Gefople as fotos dos pesquisadores, como mostra a figura 2, com uma descrição dos perfis ou de um currículo humanizado, apontando outras identidades que nos constituem.

 

Figura 2

 

Escaneei o QRcode para conhecer os currículos humanizados dos integrantes do Gefople

Kalantzis, Cope e Petrilson (2020, p. 142) apontam que “outro foco da pedagogia dos letramentos na abordagem crítica é o reconhecimento de que toda representação e toda comunicação envolvem identidades humanas”, assim, letramentos e identidades estão interconectados. Assim, pensar nestas outras identidades que nos constituem, nos faz acionar outras leituras de nós mesmos, mostrando nossas visões de mundo, valores, atitudes, práticas sociais e culturais. Ao falar das identidades que nos perpassam, refletimos também sobre as diferenças entre o eu e o outro, mobilizamos nossos conhecimentos e práticas socioculturais, propiciando espaços para construção de sentidos.

 

Whatsapp

As interações oportunizadas pelas diferentes plataformas no ambiente virtual oportunizaram discussões assíncronas e outras reflexões que extrapolaram os encontros presenciais. Os integrantes do grupo compartilhavam experiências e referências teóricas para além dos momentos destinados às discussões, ampliando e complementando as reflexões do grupo, como vemos na figura 3, um print de interações via Whatsapp. Assim, os integrantes do Gefople colaboram entre si, compartilham suas leituras e provocações e instigam as próximas discussões abordadas nos encontros.

Figura 3

Borelli e Pessoa (2018, p.70) destacam que a construção do saber docente em relação ao ensino de uma língua estrangeira deve incluir momentos de reflexões acadêmicas sobre a linguagem, ensino e aprendizagem e “não pode limitar-se aos saberes da prática ou às teorias pessoais dos professores”. Daí a importância de propiciar esses espaços de reflexão sobre a linguagem que dialoga com os multiletramentos, a educação linguística e que reconhece a língua como prática social.

Sala virtual

As interações também aconteceram no Google Classroom. Por meio dos posts, percebemos o quão colaborativo é o perfil deste grupo. Além de contribuições teóricas, os participantes lançam mão de experiências de vida e sentimentos pessoais que emergem das várias formas de interação no/com o Gefople.

Os posts no Classroom são também uma forma de compartilhar o conhecimento adquirido com as leituras dos textos selecionados para os encontros. Pensando então, nos espaços de formação, nós podemos entender que as trocas de experiências acontecidas no Gefople, nos permitem interagir mais, uns com os outros e refletir sobre a nossa prática, enquanto professores em formação ou professores formadores, como exemplificado nas figuras 4 e 5.

Figura 4
Figura 5

Ouvir o outro, conhecer as diferentes trajetórias pessoais, acadêmicas e profissionais, compreender as dificuldades, vislumbrar as mudanças de paradigmas, por exemplo, nos possibilitam repensar o nosso próprio processo e trajetórias, e oportunizam novos olhares. Saber ouvir o outro é uma virtude e mal percebemos que é para nosso próprio bem. Como já dizia Rubem Alves “sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória”, sempre estamos preocupados em aprender a falar, sem lembrar que ouvir nos permite aprender e crescer. Uma escuta sensível para as experiências e vivências do outro ressignifica nosso olhar, nosso pensamento e consequentemente nossa ação e, assim, possibilita que “ouçamos o humano que habita em cada um de nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o outro que dá sentido e é a razão do nosso existir, sem o qual não somos e jamais seremos humanos na expressão da palavra” (ALVES, 1999).

Borelli e Pessoa (2018, p.74) evidenciam que “[a] colaboração entre professores é condição fundamental para o desenvolvimento da reflexão crítica, porque juntos podem problematizar suas convicções ao abrir-se a novas perspectivas e realidades que devem ser experimentadas”. Essas novas influências e inquietações provocadas pelo ato de repensar a própria prática a partir do ato de ouvir o outro, pode ser observada na figura a seguir:

Figura 6

Menezes de Souza (2011) destaca que para que possamos ler criticamente é preciso que escutemos além do texto e das palavras lidas, "[i]sso quer dizer que ao mesmo tempo em que se aprender a escutar, é preciso aprender a se ouvir escutando”. Essa atitude de ouvir escutando, nos possibilitar ressignificar nossas praxiologias.

O contexto atual pede isso de nós, que tenhamos escuta e olhar sensível. É preciso nos despir de velhas práticas e perspectivas situadas que nos impedem de enxergar o universo que nos forma. O ato de compartilhar conhecimento por meio das trocas de experiências pode ter papel relevante na formação e construção dos sujeitos professores, visto que todo o processo é constituído de um pensamento complexo e rizomático, que ao ser considerado, nos aproxima cada vez mais da realidade, da contemporaneidade.

As atividades realizadas pelo grupo buscaram convidar os participantes a colaborarem com a discussões contribuindo com a escolha dos conteúdos e conectando fontes diversas de aprendizagem por meio dos diferentes tipos de conteúdos digitais e das multimodalidades. Nesta perspectiva, “o discurso do professor muda de monólogo para diálogo” (KALANTZIS; COPE, 2021, p.7).

Algumas considerações

Mídias digitais, linguagens midiáticas

Letramento, informação, comunicação

De que vale aplicativos, sites, software e objetos digitais?

Se não há de fato, novas significações, visões e versões?

Olira Rodrigues
 

Para pensar as considerações finais deste artigo, trazemos uma outra estrofe de Olira Rodrigues, em Tecnologia, pois, considerando os novos modos de construir sentidos e as novas maneiras de se comunicar propiciadas pelas multimodalidades emergentes no meio digital, percebemos a necessidade de agregar à formação de professores discussões que envolvam novas manifestações da linguagem.

Todas as plataformas - Meet, Classroom, Instagram, Whatsapp e site - foram uma maneira de fazer com que a partir da experiência, os professores em formação pudessem repensar o sentido da linguagem no meio digital para sua formação e atuação profissional.

Ao analisar em que sentido tais práticas de multiletramentos propostas aos professores em formação possibilitaram novas reflexões sobre a atuação de professores de línguas numa perspectiva crítica, destacamos que os professores em formação se perceberam como quem reconhece e possibilita experiências e novas leituras sobre o mundo em que vivem e/ou sonham.

A diversidade cultural e de linguagens traz consigo a necessidade de se pensar essa pedagogia dos multiletramentos, ou seja, de se considerar as questões emergentes da sociedade contemporânea. Daí a necessidade de incluir nos currículos a variedade de culturas do mundo globalizado, caracterizado pela presença das tecnologias digitais na convivência com a diversidade cultural e alteridade, e também, a importância de se possibilitar espaços para esse tipo de discussão e formação que resgatem o sentido humano em “redes de saberes cibernéticos/ em correntes elétricas e sanguíneas” (Olira Rodrigues).


REFERÊNCIAS

ALVES, Rubem. O amor que acende a lua. 8ª edição. Ed: Papirus. 214 p. 1999.

BORELLI, Julma Dalva Vilarinho; PESSOA, Rosane Rocha. Reflexão crítica e colaborativa na formação do professor de língua estrangeira. In: PESSOA, Rosane Rocha; BORELLI, Julma Dalva Vilarinho. (Org.). Reflexão e crítica na formação de professores de língua estrangeira. Goiânia: Editora UFG, 2018.

FREITAS, Carla Conti de. Multiletramentos na formação de professores de línguas: das limitações às novas práticas curriculares. Revista Coralina. Cidade de Goiás, v.1, n.1, fev.2019.

KALANTZIS, Mary; COPE, Bill. Pedagogies for Digital Learning: From Transpositional Grammar to the Literacies of Education. In: SINDONI, Maria Grazia; MOSCHINI, Ilaria. Multimodal Literacies Across Digital Learning Contexts. Routledge, 2021. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/344876961_Pedagogies_for_Digital_Learning_From_Transpositional_Grammar_to_the_Literacies_of_Education, Acesso em: 10 de jan. 2021.

MAGALHAES, Cristiane Ribeiro ; FREITAS, Carla Conti de ; AVELAR, Michely Gomes. Digital platforms: language teachers' perception based on an extension action. In: Armando Malheiro da Silva; Carla Conti de Freitas; Francisco Alberto Severo de Almeida; Mário Franco. (Org.). Information Management, Education and Technology. 10ed.Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2019, v. 1, p. 113-124.

MENEZES DE SOUZA, Lynn Mario. Para uma redefinição de Letramento Crítico: conflito e produção de Significacão. In: ARAÚJO, Vanessa de Assis; MACIEL, Ruberval Franco. (Org.) Formação de professores de línguas: ampliando perspectivas. Jundiaí, Paco Editorial, 2011.